sábado, 20 de março de 2010

: : Rumo à Pomerânia e, por fim, ao Brasil! : :

: : Rumo à Pomerânia e, por fim, ao Brasil! : :


O nome de família Stricker passou por variações na sua grafia no decorrer dos séculos. Assim, de 1680 a 1750 aparece ele apenas como “Stricker” e, a partir de 1750, como “Grosse Stricker” e “Kleine Stricker”.
A distinção Grosse-Stricker e Kleine-Stricker diz respeito ao tamanho das áreas remanescentes do antigo castelo feudal dos von Stricket. Referido castelo, hoje não mais existente, situava-se na Campina de Gravenstück, e de toda a área que o circundava restaram em poder da família apenas duas fazendas, uma maior (com 10,8 hectares), que ficou sob o domínio dos agora denominados Grosse-Stricker, e outra ligeiramente menor (com 10,5 hectares), que quedou em poder dos chamados Kleine-Stricker. Ainda hoje, na Vestfália, região alemã onde se situa Dörenthe, encontramos pessoas com tais sobrenomes.
Na propriedade Kleine-Stricker, na qual há um conjunto de construções provavelmente de fins da idade média, até recentemente morava Franz Kleine-Stricker. Nela havia uma velha viga na cumeeira de uma das construções, contendo uma inscrição que atestava a profunda religiosidade daquela antiga família. Eis o verso:
“Somente nas tristezas de breves dias
serve esta casa como moradia,
porque a cada batida do sino
já a morte se manifesta.
Portanto construa, em tempo hábil,
uma casa para a eternidade.”
Bernard von der Stricket e sua esposa Mike, 1664.


Todavia, os membros da família Stricker que imigraram para o Brasil, eram procedentes da Pomerânia e não da Vestfália, grafando seus sobrenomes como “Stricker”, somente. A explicação está no fato de que, no século XVII, antes da cisão da família entre os Grosse-Stricker e os Kleine-Stricker, várias famílias da região migraram para a Pomerânia, dentre as quais um ramo da família Stricker.

Brasão da Pomerânia, com o grifo característico


Uma vez estabelecidos no norte da Alemanha, na “Pommern”, passaram a viver como simples camponeses, em terras pertencentes a algum grande proprietário a quem deviam trabalho. As terras da família, em Dörenthe, ou passaram a se concentrar nas mãos do primogênito de cada geração, excluindo os demais, ou então, acabaram se diluindo entre os vários membros da família após sucessivas partilhas realizadas ao longo do tempo.
Além do mais, incontáveis foram as doações feitas pela família, no curso dos séculos, para igrejas, conventos, hospitais, asilos, etc., dissipando-se o patrimônio, gradativamente, nestas obras e nas vendas de terras efetuadas.
A Pomerância era um antigo ducado situado no nordeste alemão e que, a partir de 1806, fora incorporado ao todo-poderoso Reino da Prússia, assim permanecendo.
Nele vamos encontrar o nome de Carl Ludwig Strickert, casado com a pomerana Wilhelmine Weber (*1813 em Mühlendorf; +1877 em Schönwalde), ambos residindo em Woitzel, pequena aldeia então pertencente ao Distrito de Regenwalde.

A aldeia de Mühlendorf, onde nascera Wilhelmine Weber Strickert, situa-se entre os campos, mantendo uma métrica medieval e apresentando um tamanho médio. No alto, a aldeia é dominada por um moinho holandês do século XIX, de tijolos, com 4 pás e cúpula de ferro fundido, contendo 3 andares e sótão, nas medidas de 14 metros de altura por 10 metros de diâmetro, hoje atração turística. A partir de 1945, com o fim da II Guerra Mundial, Mühlendorf foi separada da Alemanha e incorporada à Polônia, sendo rebatizada com o nome de Poradz. Também foi desligada do Distrito de Regenwalde, passando a integrar o Distrito de Labes, igualmente anexado à Polônia e rebatizado como Lobez.

Moinho construído no século XIX em Mühlendorf (Poradz)


Já a aldeia de Woitzel, que acolheu o casal Carl Ludwig Strickert e Wilhelmine Weber Strickert, e na qual nasceram seus dois primeiros filhos (Johann Gottlieb e Caroline), em 1844 e 1847, respectivamente, consiste em uma localidade muito antiga, já conhecida em 1280. Nela se destaca um castelo renascentista do século XV e uma antiga igreja protestante construída em 1580, cuja pitoresca torre revestida de madeira data do século XVIII, coberta por uma cúpula octogonal. Nela se situa o mais antigo e um dos mais belos altares protestantes da Pomerânia Ocidental, dividido em 5 partes e decorado com representações esculpidas do Novo Testamento. Nesta igreja devem ter se casado Carl e Wilhelmine, bem como batizados seus dois primeiros filhos.
A partir de 1945, também Woitzel foi desligada de Regenwalde e incorporada ao Distrito de Labes (Lobez), deixando de integrar a Alemanha e sendo anexada à Polônia, onde foi rebatizada como Wysiedle.

Igreja protestante de Woitzel (hoje Wysiedle), construção renascentista do século XVI.
Parte central do altar da igreja protestante de Woitzel (Wysiedle), do século XVI, representando a crucificação.


Posteriormente, a família Strickert parece ter se fixado em outra aldeia próxima, de nome Rienow, onde encontramos o registro de nascimento de um terceiro filho, Julius (cerca de 1850). Rienow é uma pequena aldeia, de origem medieval, mencionada em 1595 como feudo de um grande senhor local. Nela há uma fazenda com um grupo de residências na parte norte, e um impressionante palácio de 2 andares datado de 1890. Na ponta da aldeia são preservados fragmentos de um cemitério protestante e de uma antiga igreja do século XVIII. Desde 1945, também Rienow foi desmembrada da Alemanha e anexada à Polônia, sendo rebatizada como Rynowo.

Mencione-se aqui que na Pomerânia os Strickert não dispunham de uma propriedade, residindo nas terras de algum grande senhor, para quem trabalhavam. Findo o contrato ou insatisfeitos com as condições, provavelmente mudavam de aldeia, passando a laborar para um outro senhor. Este deve ser o motivo pelo qual há o registro de sua presença em sucessivas aldeias da região.

Por fim, acabaram por se fixar em Schönwalde, onde faleceu a matriarca Wilhelmine Weber Strickert, em 1877. Também lá nasceram seus netos, filhos do primogênito Johann Gottlieb. E foi de Schönwalde que as famílias Strickert (Stricker) e Strickert-May partiram, em 1880, rumo ao Brasil, sendo esta aldeia a última anotação da presença deles no solo alemão.
Antiga aldeia medieval, Schönwalde conserva o sistema de praças, situando-se às margens de um lago artificial. Dominando a aldeia fora erigido, na Idade Média, um castelo fortificado, a partir do qual posteriormente se construiu, em uma pequena colina, um palácio renascentista, Junto ao palácio há um parque, margeando o lago, no qual se destacam imponentes faias, com altura superior a 4,5 metros, além de enormes freixos.
A igreja de Schönwalde fora construída também no período medieval, sendo a igreja atual uma edificação de 1845, tendo ao lado um cemitério municipal que, no passado, fora protestante, datado da segunda metade do século XIX. No rústico Campanário de madeira, aberto, há um sino fundido em 1603.
A partir de 1945, também Schönwalde foi destacada do território alemão e incorporada à Polônia, sendo rebatizada como Zajezierze, deixando de pertencer ao Distrito de Regenwalde para se integrar ao Distrito de Labes (depois, Lobez).

Antigo postal de Schönwalde, destacando-se o Castelo (Schönwalde Schloss) e parte da aldeia.


Imagem do Schönwalde Schloss, o palácio renascentista erigido junto ao antigo castelo fortificado de Schönwalde.









Campanário de madeira aberto, da igreja de Schönwalde, com sino fundido em 1603, remanescente da igreja ali existente na Idade Média.


Até o momento, conseguiu-se apurar a existência de apenas 03 filhos ao casal Carl Ludwig Strickert e Wilhelmine Weber Strickert:
1) JOHANN GOTTLIEB ERDMANN STRICKER(T);
2) CAROLINE HENRIETTE (ERNESTINE) STRICKERT;
3) JULIUS CARL WILHELM STRICKERT.

Os dois primeiros irmãos acima listados decidiram, igual a tantos outros, imigrar para o Brasil na companhia de seus cônjuges e filhos, fazendo-o no ano de 1880, o que deu início a uma nova fase na quase milenar história desta antiga estirpe, agora no Novo Mundo.
Anúncio do século XIX, contendo imagem de um Vapor, tal qual o que trouxe a família Stricker ao Brasil, em 1880
A viagem histórica se deu a partir do porto alemão de Hamburgo, para onde a família se dirigiu e, a 20 de abril de 1880, embarcou no Vapor "Valparaiso". Após um mês atravessando o Atlântico, o navio atracou no porto catarinense de São Francisco (hoje São Francisco do Sul), o que se deu a 21 de maio de 1880.
Johann Gottlieb Stricker adquiriu uma propriedade na área rural de Joinville, de início na então chamada “Verbindungsweg”, a “estrada de ligação” entre a Estrada do Sul e a localidade de Neudorf. Poucos anos depois, vendeu-a para comprar uma situada na própria Estrada do Sul (a “Südstrasse”). Lá construiu ele mesmo uma casa para sua família, feita de estuque e coberta de palha, bem como uma Olaria e um Engenho de Cana. Represou dois riachos que cortavam sua propriedade para, no encontro dos mesmos, formar um açude e construir um monjolo para a socagem do arroz e do café que plantava.
Este homem incansável, inteligente e criativo, mas muito severo e pouco comunicativo, veio a falecer aos 66 anos de idade, vítima de pneumonia, a 03 de setembro de 1910. Após sua morte, com os tijolos e telhas que ele próprio fabricara na sua Olaria, seus filhos demoliram a antiga casa de estuque em que vivera, construindo outra, cerca de 1914, no mesmo local mas no estilo enxaimel. Nesta casa residiu, até sua morte em 22 de dezembro de 1919, a esposa Auguste Stricker.
No túmulo de Johann Gottlieb Stricker, ou apenas Gottlieb Stricker, foi gravada a seguinte inscrição, que de certa forma nos recorda o sentimento de religiosidade da família, já manifestado quando daquela outra inscrição que estivera gravada na viga da casa em que viviam os Stricker de Dörenthe:
As flores crescem e caem.Assim floresce o homem e desce ao túmulo.Quando Deus nos chama para a morte branda.
No céu está nosso lar!"

Em 1911, a imigrante Auguste Freitag Stricker (1847-1919), então viúva, reúne-se com 10 dos seus 11 filhos (o primogênito Julius já havia falecido), além de alguns genros, noras e netos. Na legenda, os nomes de cada qual (arquivo pessoal).


Dos seus onze filhos descendem inúmeras famílias, hoje espalhadas por várias cidades brasileiras.
Por conseguinte, no próximo dia
21 de maio de 2010 serão comemorados os 130 anos da chegada desse grupo de pioneiros ao solo brasileiro. Participem!!

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2 comentários:

Anônimo disse...

Olá!

eu tenho um ancestral, Adolf Wilhelm Textor, que foi arrendatário da propriedade de Schönwalde até, que, ao redor de 1850, por dificuldades financeiras, emigrou ao Brasil. Veja em http://heuser.pro.br/getperson.php?personID=I47&tree=heusers.

Anônimo disse...

Ola!
Eu so Pablo von Koeller, minha familia foi a propietaria do Schonwalde ate o fin da WWII, agor nos figamos ao Chile - Peru.
Meu pai Hartmuth v. Koeller v.Kleist-Retzow, llego ao Chilo no anho 1951, deposi de delhar sua terra onde se perdeu tudo.